Por que não devemos dar celular para crianças: um olhar neuro pedagógico
O uso precoce de celulares por crianças tem gerado grande preocupação entre educadores, profissionais da saúde e especialistas em desenvolvimento infantil. Do ponto de vista neuro pedagógico, que integra conhecimentos das neurociências, psicologia e pedagogia, o acesso às telas em idades precoces pode impactar negativamente diversas áreas do desenvolvimento.
1. Desenvolvimento cerebral em formação
Durante a infância, especialmente nos primeiros anos de vida (0 a 6 anos), o cérebro está em intenso processo de desenvolvimento. As conexões neurais (sinapses) se formam em velocidade acelerada com base nas interações sensoriais, motoras e sociais que a criança vivencia no ambiente real. Segundo estudos do neurocientista Jean-Pierre Changeux, experiências repetitivas e ricas em estímulos naturais são essenciais para o fortalecimento das redes neurais.
O uso excessivo de celulares limita esse tipo de experiência e favorece estímulos artificiais, rápidos e passivos. Isso pode prejudicar o desenvolvimento da atenção sustentada, da função executiva (como controle inibitório e planejamento) e da memória de trabalho, funções cognitivas fundamentais para a aprendizagem futura.
2. Impactos no comportamento e na regulação emocional
Pesquisas mostram que crianças expostas precocemente a telas apresentam maior risco de desenvolver transtornos de atenção, impulsividade, dificuldades de socialização e comportamentos ansiosos. De acordo com a neuropedagoga francesa Catherine Gueguen, o uso excessivo de tecnologias prejudica a construção das habilidades socioemocionais, uma vez que a criança deixa de vivenciar interações humanas autênticas, fundamentais para o desenvolvimento da empatia, autorregulação e vínculo afetivo.
3. Comprometimento da linguagem e da motricidade
A aquisição da linguagem depende do diálogo, do olhar, da troca com o outro. Quando a criança passa muito tempo diante de telas, há uma redução significativa na interação verbal com pais e cuidadores, comprometendo o desenvolvimento da linguagem oral. Além disso, a motricidade fina e ampla — essenciais para a escrita, coordenação e autonomia — também é prejudicada pela postura sedentária e pela falta de exploração do mundo físico.
4. Recomendações de especialistas
Instituições como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a American Academy of Pediatrics (AAP) recomendam evitar qualquer exposição a telas antes dos 2 anos de idade e limitar o tempo de uso para crianças entre 2 e 5 anos a no máximo 1 hora por dia, com supervisão ativa dos pais. A prioridade deve ser dada a atividades que estimulem o brincar livre, o contato com a natureza e a convivência social.
Conclusão
Do ponto de vista neuro pedagógico, dar celulares para crianças pequenas representa um risco ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social saudável. A infância é um período sensível, em que o cérebro precisa de experiências concretas, interações humanas e movimento. Substituir isso por telas pode gerar prejuízos duradouros. O equilíbrio e o uso consciente da tecnologia devem ser construídos com base na maturidade neurobiológica da criança, respeitando seu tempo de desenvolvimento.
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